sexta-feira, 15 de julho de 2011

Entrevista com o Chefe do INMET sobre desastres naturais

‘Sem políticas públicas, contaremos mais mortos’, diz chefe do Inmet

O chefe do Centro de Análise e Previsão do Tempo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Luiz Cavalcanti, falou nesta quarta-feira (13), na 63ª reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Goiânia, sobre a necessidade de o país implantar políticas públicas para monitorar e prevenir catástrofes naturais, como a que atingiu a região serrana do Rio de Janeiro no início do ano.
“Se não adotarmos políticas públicas, vamos continuar contando os mortos, porque novos eventos vão acontecer”, disse o meteorologista. Segundo ele, o país precisa se prover de mais informações sobre previsão do tempo, para que a população possa tomar decisões.
“Temos recursos, mas as tragédias continuam. É importante haver cooperação entre as instituições. Para contratar mais meteorologistas, por exemplo, tem que abrir vaga em concurso público. Aí, em 30 anos, isso acontece”, afirmou.
De acordo com o chefe do Inmet, órgão subordinado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a grande maioria dos avisos de eventos graves se confirma. “Previmos mais de 320 acidentes severos no ano passado, e pelo menos 300 se concretizaram”, apontou.
Já fenômenos como tornados não estão aumentando no Brasil, mas a capacidade de observação. Para ajudar na vigilância e antecipação de incidentes meteorológicos, desde o fim de 2008 opera uma rede de centros virtuais espalhada por São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Belém, Recife e Porto Alegre.

“Trabalhamos integrados por intranet, e a ideia é agregar conhecimento e experiência nessa área”, disse Cavalcanti. Já há unidades operando na Argentina, Uruguai, Paraguai e, mais recentemente, na porção norte da América do Sul.
No Brasil todo, há 462 estações físicas do Inmet instaladas atualmente. “Na Amazônia, porém, o acesso é muito difícil, por questões de segurança. Tem que pedir autorização até para o cacique”, afirmou o meteorologista.
Os radares atuais não dão uma previsão a longo prazo, mas de acordo com o chefe do Inmet, fornecem a medida quase exata de chuva. “Modelos mais refinados, usados na Europa, já são capazes de antecipar a precipitação por bairros. Precisamos de computadores mais modernos, e estamos fazendo um upgrade para isso”, explicou.
Tragédias no Brasil – Depois dos deslizamentos e de quase mil mortes na região serrana do Rio de Janeiro, a preocupação com problemas climáticos no país aumentou. Por conta disso, está sendo criado o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), que deve ser instalado até o fim do ano no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de Cachoeira Paulista, interior de São Paulo.
De acordo com o físico Antonio Marcos Mendonça, do MCT, após o ocorrido no Rio, foram feitas várias reuniões envolvendo os ministérios de C&T, Casa Civil, Cidades, Integração Nacional, Meio Ambiente, Defesa e Minas e Energia.
Ele citou, ainda, o desastre de Santa Catarina, que aconteceu em novembro de 2008 pelo excesso de chuvas, e o de Angra dos Reis, no réveillon de 2009 para 2010.
“O número de inundações, ventos, secas e deslizamentos de terra tem aumentado em todo o mundo”, disse Mendonça. Atualmente, 25 municípios brasileiros em áreas de risco estão mapeados. “O objetivo é estender aos demais em breve”, acrescentou.
Outra ideia é criar centros regionais de alerta e prevenção de catástrofes naturais. “A intenção de ter um para cada região”, afirmou.
O geólogo Francisco de Assis Dourado, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), acredita que as pessoas precisam se conscientizar. “Elas sabem que correm risco, mas ignoram. É como uma roleta russa: você sabe que vai morrer, mas continua.”
Ele destacou que a Defesa Civil do Rio envia alertas via SMS e Twitter, a moradores previamente cadastrados, sempre que o limite de chuvas é atingido. “Na capital, o aviso também é feito pelo site e por sirenes”, disse.
Dourado ressaltou que o melhor instrumento de divulgação são as crianças. “Se isso for feito, em alguns anos teremos uma população consciente”, concluiu. (Fonte: Luna D’Alama/ G1)

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